Atividades interdisciplinares propiciam integração entre professores e estudantes
Como forma de promover a interdisciplinaridade dos componentes curriculares e proporcionar um processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e motivador, professores dos cursos técnicos integrados ao ensino médio realizaram duas importantes atividades nesta semana. Elas fazem parte do projeto de ensino “Perfil do Profissional de Secretariado: evolução, desafios, reflexões e possibilidades para a empregabilidade à luz da Pedagogia Histórico-Crítica”.
A equipe docente responsável pelo projeto é formada pelos professores Elisângela Costa e Heloane Borges, de Técnicas Secretariais; Francinara Andrade, de Metodologia da Pesquisa Científica; Gracilene Medeiros, de Língua Portuguesa e Literatura; Heila Antonia Rodrigues, de Geografia; Igor Cruz, de Informática Básica; Rafaella Pereira, de História; Sandra Mara Botelho, de Língua Inglesa; e Tatiana Lopes, de Marketing Pessoal.
A primeira atividade, realizada nesta terça-feira, 18, no complexo de artes do Campus Boa Vista do Instituto Federal de Roraima (CBV/IFRR), foi uma roda de conversa com o tema “Secretariando: diálogos com o mundo do trabalho – conhecimentos, desafios e vivências profissionais”. Ela teve como público-alvo 35 alunos do 1º ano do curso Técnico em Secretariado. Além de proporcionar diálogos com o mundo do trabalho alinhados aos conhecimentos científicos, favorecendo uma formação integral, omnilateral, serviu para incentivar a reflexão sobre a atuação docente na aplicação da didática da Pedagogia Histórico-Crítica.
Participaram do diálogo a secretária executiva e servidora do CBV Raine Castro de Moura Carvalho, atualmente à disposição da Superintendência do Patrimônio da União em Roraima; o servidor do Campus Avançado do Bonfim (CAB) e egresso do curso Técnico em Secretariado Clinton Júnior George; a secretária executiva e chefe do Controle Interno da Rádio Roraima, emissora vinculada à Secretaria de Comunicação do Governo de Roraima, Ronyeila Clícia de Souza Pinheiro; e a servidora do Campus Boa Vista Zona Oeste (CBVZO) e egressa do curso Técnico em Secretariado Nataliana Ribeiro dos Santos.
Essa atividade faz parte também da pesquisa de campo do mestrado em Rede (ProfEPT) realizada pela professora Elisângela Costa, de Técnicas Secretariais, na qual os docentes participantes do estudo fazem o planejamento integrado exercitando as cinco etapas da didática da Pedagogia Histórico-Crítica: prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final. “Por meio das várias dimensões do conhecimento correlatas aos componentes curriculares envolvidos, a roda de conversa será utilizada como estratégia pedagógica para propiciar o exercício de habilidades e competências essenciais para o mundo do trabalho, além de promover o conhecimento da profissão de secretariado, dialogando com os convidados, com os professores e entre seus pares”, disse Elisângela.
Para Ronyeila Clícia, o diálogo, principalmente nos tempos atuais, é de suma importância. “A polarização por meio da mídia tem nos afetado tanto, distanciando-nos do diálogo, e a falta de conhecimento e de aceitação da opinião tem colocado o profissional de secretariado em situações difíceis, podendo inclusive prejudicar a todos”, comentou.
Já na opinião de Raine, os profissionais que já estão inseridos no mundo trabalho terão a oportunidade de compartilhar suas experiências, ajudando os alunos a entender a área em que atuarão. “A partir dessa experiência, eles poderão perceber o contexto de sua futura atuação, seus desafios atuais, além de desmitificar várias ideias acerca do que é ser um profissional de secretariado”, completou.
Segundo a aluna do 1.° ano do curso Técnico em Secretariado Bianca Bento Batalha, a entrevista com os profissionais de secretariado foi excelente. “A partir da roda de conversa, foi possível extrair diversas informações e esclarecer dúvidas a respeito do ambiente de trabalho, do processo de adaptação durante a pandemia, da importância de administrar o tempo e do gerenciamento da vida profissional e pessoal. Foi uma aula muito proveitosa e esclarecedora”, contou.
A segunda atividade foi a exibição do documentário “Dilema das Redes”. Ela foi realizada na manhã desta quarta-feira, 19, no auditório do CBV, tendo como público-alvo 175 alunos dos 1.ºs anos dos cursos técnicos integrados de Edificações, Eletrônica, Eletrotécnica, Informática e Secretariado.
O documentário aborda a complexa relação entre os benefícios oriundos dos avanços da tecnologia e os problemas associados ao uso indiscriminado das redes sociais na internet. A exibição do filme visou criar oportunidade de diálogos intercursos, como atividade integrada e interdisciplinar, alinhados aos conhecimentos científicos relacionados aos temas da atualidade que possam impactar a formação profissional por meio da aplicação da didática da Pedagogia Histórico-Crítica.
“O documentário traz uma representação bem clara de como as redes sociais nos manipulam e afetam nossas vidas e escolhas, e como nós somos expostos nelas. Essas informações nos ajudarão na vida profissional e pessoal, pois, assim como foi mencionado na roda de conversa, devemos saber administrar as duas coisas”, concluiu Bianca.
As propostas de aulas integradas são bastante desafiadoras, pois possibilitam que os alunos refletiam sobre diversas temáticas de maneira ampla e contextualizada. E, para alunos com transtorno do espectro autista (TEA), são bastante desafiadoras, mas muito importantes. Arthur Gama Carvalho, aluno do 1º ano do curso Técnico em Informática, relata que as aulas interativas têm sido algo novo para ele, principalmente pela oportunidade de poder expressar suas opiniões. “Isso é algo que eu nunca havia experimentado. Admito que é bem diferente, tem sua imensa eficiência no ensino. É ótimo para abrir a cabeça dos alunos para novos assuntos”, declarou.
Por meio de um resumo dos principais assuntos a serem trabalhados pelos professores de cada componente curricular, é possível, a partir do documentário, perceber como os conteúdos são trabalhados de maneira integrada.
Geografia: como as redes possibilitam a integração dos diferentes espaços geográficos; percepção e compreensão da relação das redes com a dinâmica do comércio local e mundial (e-commerce); circulação das notícias em tempo real; entretenimento; e como isso tem nos causado uma ideia de redução espacial do planeta.
Português: interlocução textual – os alunos devem observar que os textos verbais e não verbais têm um leitor ou ouvinte. Esse é chamado de interlocutor. Ele pode ser específico ou generalizado. Contudo, independente disso, o interlocutor estabelece uma construção textual. Assim, o falante ou escrevente estabelece os objetivos de seu texto: convencimento, persuasão ou coerção com base nesse interlocutor. Logo, tudo o que produzimos tem objetivos claros e precisos, os quais são determinados com base no nosso leitor ou ouvinte. Dessa forma, os estudantes devem ser levados a fazer as seguintes reflexões: como o documentário ratifica a ideia de interlocução textual? Como os textos que circulam na internet moldam os interlocutores? Como a persuasão é empregada nas redes sociais? Por que o sentimento de não pertencimento é explorado pelas redes sociais?
História: análise crítica sobre os seguintes temas: “É gratuito e sempre será”, será? Nada é de graça, você é o produto algoritmo; os perigos das bolhas de informação e a pós-verdade; usos políticos das redes sociais; teorias da conspiração e disseminação de fake news. Viés behaviorista (condicionamento dos comportamentos); a questão psicológica do consumo midiático (vício em dopamina, discurso de ódio e apelo aos sentimentos com o intuito de distrair e provocar a irracionalidade); telégrafo, rádio, TV, internet x redes sociais – novos métodos de condicionamento de opiniões e comportamentos; capitalismo da vigilância; uso de robôs, inteligência artificial; o que fazer? Como mudar?
Língua Inglesa: os alunos deverão observar se no documentário são usados vocábulos/expressões em língua inglesa e qual o impacto disso na vida do usuário (das redes), ou seja, o uso da língua estrangeira nas redes sociais propicia a ampliação do conhecimento da língua inglesa? O fato de não se ter conhecimento de uma segunda língua, pode-se, por meio das redes sociais estimular o autoconhecimento?
Marketing Pessoal: os alunos deverão observar como as relações sociais (profissionais e pessoais) são afetadas pelo uso contínuo das redes sociais; como o olhar sobre si mesmo e a expectativa da aceitação popular podem afetar seu desenvolvimento pessoal; e quais os resultados negativos podem advir do uso excessivo das redes sociais.
Metodologia da Pesquisa Científica: no documentário, observa-se o domínio que as mídias exercem no nosso dia a dia, influenciando na forma que pensamos, agimos e vivemos. Assim, diante da influência das redes na produção da informação, deve-se analisar qual o tipo de conhecimento é utilizado pelos especialistas para desenvolverem tecnologias e qual conhecimento é gerado pelas redes sociais, refletindo sobre o impacto desse conhecimento no nosso cotidiano.
Técnicas secretariais: os alunos devem refletir como as redes afetam as relações interpessoais, principalmente no âmbito profissional; como influenciam o comportamento do consumidor e /consequentemente as relações comerciais – formas de fechar negócios, de atender, de trabalhar etc.; como podem influenciar na construção ou atualização do perfil profissional e na forma de colocar em prática as técnicas de trabalho; como afetam a gestão do tempo.
Informática básica: com o grande avanço tecnológico e com o desenvolvimento da internet vivenciado nos dias atuais, as redes sociais ganharam um espaço notório na sociedade, servindo para diversos objetivos, tais como entretenimento, educação, marketing, propaganda, entre outros. Assim, diante desta gigantesca massa de dados, como podemos filtrar as informações que são compartilhadas por esses meios para evoluir nossa eficiência no âmbito profissional?
Para a professora Heila Antonia, a principal importância da atividade integrada é fazer com que os alunos percebam que a construção do conhecimento é algo coletivo, social. “Queremos que os alunos percebam que a construção do conhecimento não se dá de forma isolada; que vejam e aprendam a relacionar os conteúdos estudados partindo de um mesmo ponto: filme, música, poema. E, dessa forma, reduzimos atividades e ampliamos a aprendizagem”, explicou.